segunda-feira, 14 de setembro de 2009

INDIVIDUAÇÃO
Zeus, senhor supremo do Olimpo e dos homens, foi mutilado por Tifão, esta mutilação tem um caráter mítico, é uma prova de iniciação, Zeus irá se recuperar e chamamos esta mutilação de ordem ritual . No caso de Édipo sua mutilação é de ordem social e psicológica, Édipo jamais irá se recuperar, como já foi dito, é o homem existencialmente marcado, enquanto Zeus recupera-se inteiramente e renasce pronto para iniciar seu reinado absoluto e atemporal. No caso de Édipo é o homem
socialmente vacilante, seu poder é de ordem temporal, Édipo ao saber a verdade fura os olhos, qual o significado simbólico? Simbólica e miticamente a Polis grega é sempre regida pela paridade, ou seja, seu número é sempre par, porque o homem deve ter dois pés para se apoiar, dois braços para trabalhar e dois olhos para governar e olhar a realidade de seu reino. Édipo ao se mutilar transgride gravemente a ordem social, o herói se individualiza de modo perigoso, por isto, ele será expulso da Polis e passa viver a margem da sociedade. Enquanto, Zeus depois de sua mutilação e recuperação, que é de ordem transcendental, torna-se único, diferente, impar, singular e isto agrada aos deuses porque a ordem do Olimpo é impar.
Impar, o fora do comum, realça o sagrado, a mutilação de Zeus o prepara para ser um, para ser rei. Simbolicamente Édipo ao se individualizar também busca o sagrado, banido da Polis não pode mais reinar, porque se individualizou, rompeu com a Polis, sua entrada no Hades, representa uma deferência especial a Édipo porque ele cumpriu se destino tornou-se UM, passou pelos seus ritos de passagem e compreendeu o destino que os deuses tinham preparado para ele .

Lisiane Porto de Vasconcellos.

Mitologia

ÉDIPO A VERDADE

E assim lá vai ele, como um velho, entra no palácio e encontra Jocasta morta, enforcada. Ele afrouxa corda de seu pescoço, tira suas vestes e os alfinetes. Com os próprios alfinetes fura os olhos.
Morte e desonra, na casa dos Labdácidas.
Édipo, o mais miserável dos homens, concluí diante de sua dor insuportável que a morte não é o suficiente para ele.
Édipo chama Creonte e diz que qualquer castigo que viesse para ele seria insuficiente, porém a cidade e as pessoas, não deveriam pagar pelos seus crimes. E como ele mesmo tinha prometido a todos ele achou o assassino de Laio e agora a cidade deve bani-lo para que fique livre das mazelas, dos miasmas que assolam a cidade. Pede a Creontes que tome conta da cidade enquanto os filhos não possuem idade suficiente para governar e, que permita, com que suas filhas venham com ele assim como, o sepultamento de Jocasta. Mas, Creontes, primeiro pede para consultar o Oráculo antes de quaisquer decisão, Édipo não aceita e insiste que lhe seja atendido seus pedidos. Creontes com pena, acaba cedendo.


Édipo em Colono

Édipo, conduzido por Antígona chega ao Monte das Eumênides, que fica em Atenas, lá pede para falar com Teseu, rei de Atenas, e ele é atendido.
Teseu promete a Édipo que fará tudo que é possível para ajudá-lo. Édipo quer ajuda, mas não ajuda de posses, e sim proteção. Pois Creonte e seus filhos quer levá-lo de volta a Tebas, não por piedade, mas porque Tebas está em guerra por demanda de poder, e de acordo com a nova profecia do Oráculo quem tiver o apoio de Édipo sairá vencedor e governará Tebas.

Teseu promete que ninguém o levará, mas pede a Édipo que escute, pelo menos o que Creonte e seus dois filhos têm a dizer.

Édipo escuta e amaldiçoa os filhos, pois nenhum deles o procurou antes ou se preocupou com ele. Mesmo assim, querem levá-lo a força, mas Teseu interfere e diz: que ninguém irá levá-lo a não ser que queiram entrar em guerra com ele. Assim vão embora. Édipo agradece a Teseu e diz que chegou a sua hora.

Comentário: quando Édipo chega finalmente ao monte consagrado as Eumênides, significa que depois de anos sua consciência reconhece suas culpa e agora seu arrependimento é verdadeiro esta livre para partir para o Hades.

Lisiane Porto de Vasconcellos

Mitologia

Édipo e a Filosofia


Édipo , sujeito do conhecimento, vive sua vida entre doxa e episteme .
No mito reconhecemos que na caverna seu mundo é perfeito. Édipo dominou a episteme quando decifrou o enigma da Esfinge .
Édipo é o sujeito que em seu mundo sensível conhece as coisas e tem poder sobre elas.
Seu Ser e mundo é como Parmênides descreveu é o mundo das aparências, das ilusões, aquilo que conhece como verdade é falso.
Sua existência por ser enganadora esta sempre lhe testando, suas vitórias são sempre temporárias, é o devir de Heráclito .
Édipo, somos todos nós quando não olhamos o mundo, como ele é verdadeiramente. Nossa existência busca, nas ciências, nas religiões, nossa essência, porque nossa razão não consegue perceber . Assim nossa ética é sempre regulada pelas ideologias . Também somos como Édipo vemos só aquilo que é sensível aos nossos olhos mas somos cegos naquilo que nos é essencial. Sofremos como ele porque não sabemos quem somos e de onde viemos.
E como ele trocamos fácil, nossas idéias e ideais, por algo que conforte o nosso ego, nós ocupamos a vida a resolver problemas banais, e nos sentimos como ele, heróis .
Como ele herdamos uma culpa, porque como ele sempre somos feridos na alma, desta ferida, que uns chamam alienação, outros de recalque. Assim como Édipo nos apoiamos na nossa terceira perna, para uns vaidade, para outros medo . Assim como ele pensamos que salvamos a Polis, quando exercemos nosso direito como cidadãos (matamos os monstros que, segundo os gregos, simbolizam as perversões dos governantes perversos ) mas logo a Polis esta em perigo de novo e assim vai...
Até que um dia como ele somos convidados a sair da caverna e conhecer verdadeiramente o que esta oculto e buscar a verdade, ir atrás de nossa verdadeira essência, ele foi, uns não irão, eu quero ir, mas a busca é sempre longa e difícil . Fora da caverna não existe o conforto da dúvida, só a dura certeza, também não existe recompensa, nem prêmio, só a realidade . Muitos irão voltar para contar as grandes novidades, assim como Zoroastro voltou, uns vão dizer que era louco, outros não acreditarão nele, e como o herói nietzschiano, estamos destinados a solidão. Mas assim é a filosofia, solitária naquilo que ela tem de mais democrático que é a possibilidade de cada um de nós ser herói de si mesmo.
Édipo enfim encontrou-se, viu sua essência verdadeira, descobriu de onde veio e escolheu o seu fim.
E aí vocês dirão isto é filosofia, eu responderei, e quem disse que não é?

Lisiane Porto de Vasconcellos .

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

LOGOS

A razão enquanto substância primeira ou causa do mundo, foi defendido
pela primeira vez por Heráclito.
Para Heráclito o princípio das coisas é o fogo.
O Fogo é a razão divina (Logos), princípio ativo, inteligente, criador, lei universal do mundo.

“Com o Fogo se permutam todas as coisas e o Fogo com tudo se permuta, como o ouro com as mercadorias e estas com o ouro”.

O Logos tem domínio sobre tudo. Princípio gerador, não exclui ele a luta e a discórdia: da unidade saem os opostos e vice-versa. Todo contraste supõe a unidade que é a sua racionalidade intrínseca. O universo é evolver incessante de contrários em luta entre si, passagem ou transmutação de um contrario no outro (devir). (Dióg. L. Vll, 134).
A luta dos contrários é lei do mundo.
A harmonia dos contrários se realiza na unidade do fogo: a harmonia visível do mundo não é senão um reflexo daquele invisível do Logos, presente a mente do homem, principio constitutivo da realidade universal. Aos sentidos foge a racionalidade que governa o devir e sob este aspecto, diz Heráclito, eles nos enganam enquanto nos fazem conhecer a aparência e não a essência das coisas. Para isso a filosofia é investigação, gradual desvendamento da verdade, além das aparências sensíveis: “Os homens não são como o discorde está de acordo consigo mesmo; harmonia de tensões opostas, como as do arco e da lira”. A harmonia é a unidade substante aos contrários, que o Logos une sem identifica-los ou suprimi-los.

Logos e Filosofia Clássica

A filosofia, com Heráclito, ganha um conceito de Logos que se opõe ao Mito que na Grécia, aparece desde os tempos remotos, na tradição oral dos rapsodos, que através das histórias mitológicas contavam as origens dos deuses e as aventuras dos heróis; os poetas gregos são instruídos pelas Musas que contam a eles como nasceu o mundo.
Na Teogonia, Hesíodo conta os nascimentos das Musas e as nomeia , ela são filhas de Zeus e da Memória e não é por caso que elas tenham por progenitores Zeus e Memória, de Zeus herdam o poder de verdade, ele é poder supremo e mantenedor da ordem e da justiça (v.54). Da mãe Memória se diz Medéousa que indica, sobretudo, a atividade de cuidar, de tomar conta, de onde vem um saber pratico( v .56). Daí a oposição que a filosofia faz ao mito, esse conhecimento prático que precisa da Revelação de outrem, ao invés da reflexão racional produzido pelo Logos.

Em Platão temos um exemplo da ruptura do discurso poético: “Os Senhores recordam-se de como Platão, no projeto de seu Estado, procede com os poetas. No interesse da comunidade, proíbe a sua permanência dentro dele. Ele tinha o poder da poesia em alta conta. Mas ele a considerava superficial e supérflua: bem entendido, em uma comunidade perfeita. A questão do direito de existência do poeta não foi, desde então, colocada com freqüência com a mesma ênfase: mas hoje ela se coloca”. (Benjamin, 1985, p. 187)

Logos ou Eros? Linguagem literal ou linguagem figurada? Método ou metáfora? Eis a divisão histórica: ambigüidades e rupturas na constituição do discurso verdadeiro: “Entre Hesíodo e Platão uma certa divisão se estabeleceu, separando o discurso verdadeiro e o discurso falso; separação nova, visto que, doravante, o discurso verdadeiro não é mais o discurso precioso e desejável, visto que não é mais o discurso ligado ao exercício do poder”. (Foucault, 1996, p. 15)

“O adivinho é um homem que vê o invisível. Conhece pelo contato direto as coisas e os acontecimentos dos quais está separado no espaço e no tempo. Uma fórmula define-o de modo quase ritual: um homem que sabe todas as coisas passadas, presentes e futuras. Fórmula que se aplica igualmente ao poeta inspirado, com a simples diferença de que o poeta tende sobretudo a especializar-se na exploração das coisas do passado (...). Divulgando o que se oculta nas profundidades do tempo, o poeta revela na própria forma do hino, da encantação e do oráculo, uma verdade essencial que tem o duplo caráter de um mistério religioso e de uma doutrina de sabedoria (...). A visão divinatória do poeta inspirado coloca-se sob o signo da deusa Mnemosyne, Memória, mãe das musas...” (Vernant, 1990, pp.360-1).

Logos e o pensamento Cristão

Enfim, dá-se a profanação do mito (Gusdorf, 1979). Uma vez profanado o mito, devemos acompanhar algumas das vicissitudes da história grega, objetivando compreender o que virá a suceder com a palavra poética em fins do século VI a.C: a verdade deslocou-se do ato ritualizado.
Da filosofia Clássica à filosofia Helenista, o Logos é princípio ativo do mundo, assim falaram dele os Estóicos, Plotino e Filon de Alexandria.
A doutrina do Logos como hipóstasee ou pessoa divina encontra a primeira formulação em Filon de Alexandria. Nessa doutrina, o Logos é um intermediário entre Deus e o mundo, o instrumento da criação divina. Diz Filon : “A sombra de Deus é o seu Logos; servindo-se dele como instrumento, Deus criou o mundo. Essa sombra é quase a imagem derivada e o modelo das outras coisas. Pois assim como Deus é o modelo dessa imagem ou sombra, que é o Logos, o Logos é o modelo das outras coisas ( Dic.de Fil. Abbagnano, pg. 630).

No Cristianismo, o Logos é identificado com Cristo. O prólogo do Evangelho de S. João: “O Logo fez-se carne e viveu entre nós” ( João, I, 14).
Em sua elaboração da teologia cristã, os Padres da Igreja insistiram nos dois pontos seguintes:
A perfeita paridade do Logos – Filho com Deus.
A participação do gênero humano no Logos, enquanto razão.

Logos e Razão

A partir do advento do cristianismo o conceito de Logos se identifica com Deus, isto irá influenciar toda a filosofia, a metafísica no seu sentido grego (aquilo que esta além da física), perde seu sentido original e passa há ser o estudo do Ser de Deus (como é entendido pelo cristianismo), na Idade Média todo o pensamento é marcado por este estudo. Expoente maior da idade média Thomas de Aquino, formulará sua filosofia com base no pensamento aristotélico, onde demonstrará que o primeiro motor aristotélico é Deus que move tudo e não é movido por outro, é o Logos princípio e causa de tudo que existe.
O Logos coloca–se predominantemente em função da fé, ou seja, a filosofia serve à teologia para interpretação da Escritura (exegese) ou para a construção doutrinária sistemática (dogmática).
A pesquisa racional “autônoma” deve ser vista no quadro do problema religioso da conversão dos infiéis, para quem é necessário colocar a doutrina cristã com base em argumentação racional. Não basta crer: é preciso também compreender a fé. E isso não se obtém somente interpretando os textos sacros ou mostrando suas possíveis implicações para a vida individual e comunitária dos homens, mas também demonstrando com base na razão as verdades aceitas pela fé, ou, pelo menos, a sua logicidade ou não–contraditoriedade com os princípios fundamentais da razão.

Trata-se de um exercício da razão que foi se desenvolvendo e refinando tendo em vista a extensão da área dos crentes. A utilização dos princípios racionais, primeiro platônicos e depois aristotélicos, era feita para demonstrar que as verdades da fé cristã não são disformes ou contrárias às exigências da razão humana, que, ao contrário, encontra nessas verdades a sua completa realização. A influencia do platonismo e do neoplatonismo, através de Santo Agostinho e a influencia do aristotelismo, primeiro através de Avicena e Averróis e depois por Santo Tomás de Aquino.

Na escolástica a razão perde o seu sentido de conhecer a verdade e o intelecto passa a ter uma função superior a razão. Santo Tomás de Aquino e seu intelectualismo aristotélico dominam todo a cena da alta escolástica.

O LOGOS E A MODERNIDADE

CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO MODERNO

A decadência da escolástica começa a aparecer no século XIV, diante de um processo autoritarista de nefasta influencia no pensamento filosófico. Posturas dogmáticas contrárias à reflexão, obstruem as pesquisas e a livre investigação. O princípio da autoridade, ou seja, a aceitação cega das verdades contidas nos textos bíblicos e nos livros dos grandes homens, sobretudo Aristóteles. “O Filósofo”, foi figura de primeiríssima ordem do pensamento da idade media, através de Sto. Tomás de Aquino, que criou seu sistema filosófico todo baseado na filosofia de Aristóteles, a vigência desta doutrina por vários séculos levará a filosofia aristotélico-tomista a um dogmatismo que impedia qualquer inovação.
O rigor desse controle se faz sentir nos julgamentos feitos pelo Santo Ofício (inquisição). Há uma relutância em incorporar as tentativas de experimentação e matematização das ciências. A preocupação com a vida depois da morte faz prevalecer o interesse pelas questões religiosas.
As tentativas de mudar esta visão tem um desfecho trágico como é o caso de Giordano Bruno acusado de panteísmo e queimado vivo por ter defendido com exaltação poética a doutrina da infinidade do universo e por concebe –lo , não como um sistema rígido de seres, articulada em ordem dada desde a eternidade, mas como um conjunto que se transforma continuamente. Foi a lembrança ainda recente desses acontecimentos que talvez tenham levado Galileu abjurar, temendo o mesmo destino de Bruno.

Mas a escolástica começa a perder forças dentro de seus próprios domínio, a religião suporte do saber, sofre diversos abalos com o questionamento do poder papal, o advento do protestantismo e a conseqüente destruição da unidade religiosa.
Aos poucos vai surgindo uma nova mentalidade no homem da idade moderna, que vai colocar a razão de novo como juiz dos novos conhecimentos, desenvolvendo uma mentalidade crítica, questionadora à autoridade da igreja e do saber aristotélico, assumindo assim uma atitude polemica perante a tradição: Só a razão é capaz de conhecer.
Enquanto o pensamento medieval é predominante teocêntrico, o homem moderno coloca a si próprio no centro dos interesses. As conseqüências desta nova postura são:
Laicização do saber, da moral, da política, estimulada pela capacidade de livre exame.Dá mesmo forma que na ciência se aprende a ver com os próprio olhos, até na religião os adeptos da reforma defendem o acesso direto ao texto bíblico, cada um tendo o direito de interpretá-lo. Além disso, o homem moderno descobre sua subjetividade.
Enquanto o pensamento antigo e medieval, parte da realidade do objeto e da capacidade do homem de conhecer, surge na idade moderna a preocupação com a “consciência da consciência”. O problema central é o sujeito que conhece, não mais do objeto.

Antes se perguntava: “Existe alguma coisa?”

Agora o problema não é saber se as coisas são, mas se nós podemos efetivamente conhecer qualquer coisa, dessa questão epistemológica, isto é, relativa ao conhecimento, é ênfase que marcará a filosofia daí por diante.
Em oposição ao saber contemplativo surge uma nova postura diante do mundo.
O conhecimento não parte apenas de noção e princípio, mas da própria realidade observada e submetida a experiência . Da mesma forma este saber deve retornar ao mundo para transformá–lo.
Dá-se aliança da ciência com técnica, homens como Galileu, Newton, Leibniz, Descartes, Pascal e muitos outros, com as suas leituras de mundo inauguram uma nova era chamada: Modernidade.

A IDADE DA RAZÃO

Secularizar, laicizar, significa justamente abandonar a dimensão religiosa que permeia todo o saber medieval .Galileu separa razão e fé buscando a verdade científica independente das verdades religiosas.
Descentralização do Cosmo.
Geometrização do Espaço.
Mecanicismo.
Mais tarde Bachelard apontará a ruptura definitiva da modernidade com seu passado com o exemplo que ele chamará de corte epistemológico: o rompimento que a física de Galileu fará com a física de Aristóteles.
Na filosofia, Descartes pública duas obras que marcarão para sempre a história da Modernidade: “As Meditações Metafísicas” e o “Discurso do Método”.
O racionalismo de Descartes vai levar a razão criar um Método seguro para o conhecimento.
Identificando razão e bom senso, Descartes restabelece o conceito clássico de razão e com base nele formula o problema novo do método: “A capacidade de bem julgar e de distinguir o verdadeiro do falso”.

Conhecimento

O tema das Meditações Metafísicas é a questão do fundamento do conhecimento, é a busca de um ser que garanta a existência do mundo e o valor objetivo das representações. Desta forma a Meditação Primeira instaura a dúvida. Descartes abre a sua Meditação com a proposta de submeter todos os conhecimentos obtidos até então a uma dúvida hirpebólica, pois todos os conhecimentos mesmos os mais verdadeiros e seguros, advieram dos sentidos ou pelos sentidos, e como já foi provado várias vezes, estes são causadores de enganos.
O primeiro argumento apresentado por ele, o erro dos sentidos, não é suficiente para estabelecer uma dúvida generalizada. Descartes apresenta outro argumento: O segundo argumento em favor da dúvida é o do sonhos. Este argumento, no entanto tem seus limites, pois se de um lado posso duvidar da existência de tudo, não posso entretanto duvidar do que é a própria condição para a representação dos objetos, que são componentes de minhas percepções, ou seja não posso duvidar das naturezas simples indecomponíveis (figuras, quantidade, espaço, tempo e etc...).
Descartes ainda aventa um terceiro argumento em favor da dúvida, argumento este que estende a dúvida ao valor objetivo das essências matemáticas e possui duas etapas:
A primeira consiste na hipótese da existência de um Deus enganador, hipótese completamente descartada por Descartes, pois a possibilidade de um Deus enganador, que pode nos induzir ao erro, colocaria uma imperfeição em Deus o que seria anti– natural, pois Deus é perfeito. A segunda hipótese é supor a existência de um Gênio Maligno, que teria por função pôr em questão o valor objetivo de nossos conhecimentos.
A Meditação Primeira introduz o problema primordial da Metafísica cartesiana, ou seja introduz o problema da fundamentação da ciências.

O sujeito

O sujeito cartesiano é descoberto por uma intuição “penso logo existo”.
Descartes coloca abaixo o edifício do conhecimento porque para ele todo o nosso conhecimento até então advém todos sentidos, e os sentidos já nos enganaram uma vez e se nos enganaram uma vez podem nos enganar sempre.
Para colocar abaixo o edifício do conhecimento le apresenta os argumentos:
Erro dos sentidos, dos sonhos, a hipótese de um Deus enganador e a do Gênio Maligno.
Na sua obra As Meditações Metafísicas Descartes quer provar a imortalidade da alma e a existência de Deus pela Razão.
Depois do Racionalismo cartesiano ficou muito difícil explicar o conhecimento sem o primado da razão.

O RACIONALISMO CARTESIANO:

A capacidade de conhecer e de estabelecer a verdade é atributo exclusivo do Logos (razão) humano, completamente independente da experiência sensível, posto ser ele, a razão inata, imutável e igual em todos os homens.

Descartes Criticava tudo o que aprendeu na escola porque não repousava em fundamentos, em princípios sólidos.
Todo conhecimento era considerado verossímil (aparentemente verdadeiro) sem fornecer nenhuma certeza.
Para se fundar na certeza o conhecimento deve começar pela busca de princípiosabsolutamente seguros.
A filosofia (sabedoria) é o perfeito conhecimento de todas as coisas. Devemos começar pela busca de princípios que sejam claros e distintos para chegar ao conhecimento das outras coisas.
Quando a nossa razão julga que uma coisa tem que ser assim e que não pode ser de outro modo, que tem de ser assim, portanto, sempre e em todas as partes então e só em então encontramos os fundamentos para o conhecimento.
Para que possamos nos instruir é necessário que formemos uma moral provisória, suficiente para ordenar nossas ações e que estudemos lógica (arte de bem conduzir a razão na busca da verdade).
A filosofia é como uma árvore cuja raiz é a metafísica, o tronco a física e os ramos todas as outras ciências.

Para Aristóteles o homem é um animal político, e a razão é a faculdade que todos os homens possuem para julgar. Para Descartes, o homem é um animal racional.
Todos nós possuímos razão, ou seja, a capacidade de bem julgar e de discernir o verdadeiro do falso. Mas nem todos os homens utilizam corretamente a sua razão.
Daí a necessidade do Método, de um caminho seguro.

O Método

Seu objetivo é bem conduzir a razão na procura da verdade.
Se quisermos buscar a verdade temos que seguir uma ORDEM.
A intuição que nos leva a uma evidência.
A dedução que acontece por meio dos processos de analise e sínteses.
A enumeração completa que controla os elos da cadeia dedutiva .
Intuição – conhecimento direto, imediato.
Evidência - Idéia clara e distinta.
Idéia clara – É o que impõem a nós em nossa verdade imediata, sem possamos duvidar.
Idéia distinta – Não podemos confundi-la com nenhuma outra.
Dedução – Raciocínio discursivo, demonstração capaz de nos levar a uma conclusão a partir de um conjunto de proposições que se encadeiam necessariamente, obedecendo a uma ordem.
Análise – Decomposição de um todo em partes.
Síntese - Recomposição do todo a partir das partes.
Enumeração completa - Controle que se certifica da não omissão de nenhum elo da cadeia dedutiva.

A partir deste momento, a especulação metafísica se lança, por assim dizer, em uma vertiginosa velocidade, na qual o logos, que começou por ser essência de Deus, vai terminar por ser essência do homem. È o momento, no século XIV, em que Ockam diz que a essência da divindade é livre arbítrio, onipotência, e que, portanto, a necessidade racional é uma propriedade exclusiva dos conceitos humanos. Neste momento é quando aparece Descartes na área intelectual.
Descartes se encontra, pela primeira vez na história do pensamento humano, na trágica e paradoxal situação de não somente encontrar-se segregado do universo - isso já foi realizado pelo cristianismo no começo de nossa era -, senão também de Deus.

No momento em que o nominalismo tem reduzido a razão a ser uma coisa de portas adentro do homem, uma determinação sua, puramente humana, e não essência da divindade, neste momento cai o espírito humano segregado também desta. Só, pois, sem mundo e sem Deus, o espírito humano começa sentir-se inseguro no universo. E o que Descartes pede a filosofia, o princípio do filosofar, é justamente isso: voltar a encontrar um ponto de apoio, uma segurança. Quando Descartes diz que todas as coisas são duvidosas, não quer dizer, em última instância, senão que nenhuma delas oferece, tal como até agora tem apresentado, garantia suficiente de solidez onde apoiar o espírito humano. O último reduto seguro é aquele em que ainda subsiste a necessidade racional. Desta maneira, chega o Eu, o sujeito humano, a ser o centro da filosofia, porém a ser o centro da filosofia de uma maneira peculiar. Em última instância, o Eu, o ego de Descartes, funciona em Filosofia, porque o que pede a filosofia é uma verdade segura; portanto, sua certeza e não sua realidade, é o que decide o caráter do Eu no pensar filosófico.
Em segundo lugar, o sujeito Cartesiano não se encontra simplesmente colocado de qualquer maneira no centro do universo, senão enquanto o resto do universo é sabido por Ele: tudo o que do universo tem dito a Grécia, o ser absoluto da forma peculiar, enquanto é sabido seguramente por ele. Na segurança do saber, do Eu, encontra o homem o consistente da natureza mesma.

Texto de Lisiane Porto de Vasconcellos

sábado, 22 de agosto de 2009

















Parte 2

Platão (427-347 a.C.) é um aristocrata ateniense, descendente pelo paterno de um dos antigo reis de Atenas e pelo materno do famoso estadista Solon.
Conhece Sócrates muito jovem e o companha até sua execução. O desgosto provocado pela morte do seu mestre o faz desistir do exercício de qualquer atividade política em sua cidade natal. Faz varias viagens especialmente pelo o que chamamos hoje sul da Itália, onde vê frustrado o seu propósito de fundar um cidade governada por filósofos (Sofocracia), e funda em 387 a.C. ,uma escola que chama de Academia que ficará em funcionamento por muitos séculos, e seu discípulo mais brilhante será Aristóteles.

Pensamento Filosófico


Ainda muito jovem, Platão conhece Crátilo, seguidor de Heráclito, que o convence de que todos os objetos sensíveis são coisas transitórias, em estado de fluxo contínuo. Sendo assim, poderiam ser somente percebidos e não se poderia afirmar nada de definitivo sobres as coisas. Por outro lado, de Sócrates, herda uma crença inabalável de que o conhecimento real é possível. Há aqui uma evidente contradição: Como pode o homem encontrar verdades seguras em relação ao mundo de seres em permanente transformação?

Para essa aparente contradição, Platão encontra uma saída: O objeto do conhecimento real deve ser invariável e percebido diretamente pelo espírito, não pelos sentidos .

Para Platão existem realidades perfeitas ou verdades supremas, que só podem ser conhecidas pelo espírito, como exemplo: A beleza ideal, o bem absoluto são imutáveis acessíveis só pelo espírito

Platão chama tais realidade de “idéias “.
“As coisas que captamos com olhos físicos são formas físicas, as coisa que captamos com os olhos da alma são, ao contrario, formas não–físicas: o ver da inteligência capta as formas inteligíveis que são exatamente ,’’ESSÊNCIA PURA” .
Porém, as idéias não podem ser encontradas entre as coisa sensíveis, pois não as vemos e nem as tocamos . Elas devem se localizar em algum outro lugar, vetadas aos sentidos. Platão chega à conclusão que existem dois planos diferentes de realidade, um é o plano das idéias (essência puras) e o outro, das coisas sensíveis (essências imperfeitas).

No livro VII da República, Platão descreve com uma alegoria, conhecida como Mito Caverna, a relação que existe entre o plano das idéias e o plano sensível.


Enquanto o mundo das idéias é eterno e perfeito, o mundo terreno é imperfeito ou uma cópia imperfeita do mesmo. Existe também o Demiurgo, um artífice divino, que contempla as formas do mundo das idéias e plasma ou molda a matéria sem forma e produz as coisas do mundo terreno.

Mas, por que o Demiurgo quis gerar o mundo terreno? Ele gerou por amor ao bem, ou, em algumas passagens, Platão diz que foi por capricho. E produziu a melhor cópia possível. Dotou-o de vida e de inteligência. Mas, a inteligência não pode ocorrer desvinculada da alma. O mundo possui uma alma (anima mundi) , alma do mundo.
A alma do mundo une-se ao corpo do mundo. O mundo é pois resultado dessa união.

O mundo terreno, apesar de ter sido gerado da forma mais perfeita possível pelo Demiurgo, é uma cópia que permanece imperfeita, se considerada a perfeição do mundo das idéias.

Todas essas posições, acerca do mundo das idéias e da origem do mundo terreno, só podem ser afirmadas tendo como pressuposto, a possibilidade do o homem conhecer a verdade.

PREEXISTÊNCIA DA ALMA

Os conceitos de Platão sobre imortalidade da alma, como a alma é superior ao corpo e como a inteligência é superior ao sentido, nos parecem fundamentais para entender a filosofia de Santo Agostinho, e é por isto, que nossa investigação começa examinando estes conceitos
Como foi dito anteriormente, Platão, influenciado por Crátilo, alimenta a duvida sobre o alcance do conhecimento humano. Ele vai solucionar por via da metafísica. Diversamente da posição típica da filosofia moderna (principalmente a partir de Descartes, século XVII), em que a questão do conhecimento (gnosiologia) é coloca antes de qualquer afirmação metafísica, em Platão a questão da gnosiologia é resolvida pela metafísica.

O conhecimento só é possível ao homem, porque a sua alma preexiste, isto é, antes de se ligar ao corpo ela habitou o mundo celeste e, agora, ao ver as coisas que o cercam no mundo terreno, se recorda das coisas que lá contemplou. O ato de recordar é designado de reminiscência.

Como podemos fundamentar a tese da preexistência e imortalidade da alma? Nas obras Mênon e Fédon, Platão apresenta dois argumentos a seus favor: Um de caráter teológico e outro filosófico.

O primeiro se baseia na tradição órfico-pitagórica. Segundo a crença dessa Religião dos Mistérios, alma é imortal e renasce muitas vezes até atingir a purificação total. Portanto, ela já viveu e viu tudo: as coisa lá de cima e as coisa daqui de baixo. Tomando essas crenças Platão conclui que conhecer não é outra coisa que recordar.

O segundo, resulta da interpretação filosófica de um exemplo prático e de algumas considerações sobre o conhecimento matemático em geral. .No Mênon, Platão interroga um escravo que jamais tinha estudado geometria, e mostra como este possuia conhecimentos. Deles não tinha consciência, mas, os possuia. Empregando a maiêutica socrática: inicialmente, faz perguntas muito simples, e aos poucos conduz o escravo a responder perguntas cada vez mais difíceis, sem nada ensinar-lhe. O escravo encontra, por si mesmo, a solução de um problema de geometria. Platão conclui, que qualquer pessoa pode extrair de dentro de si conhecimentos que não saber possuir.

Como vimos, Platão aceita firmemente a imortalidade da alma. Ela, a alma, existe antes de se ligar ao corpo e sobrevive à morte do corpo. Em sua trajetória, alma passa por um processo de reencarnação denominado “metempsicose” .

Na República, Platão expõe uma interessante teoria acerca do caminho das almas: Os homens devem viver uma vida de acordo com determinados princípios éticos, quem não o fizer, recebe uma punição. Mas, sendo o número de almas limitado, nenhuma punição poderá ser eterna, pois, poderia acontecer que num determinado momento o mundo terreno ficasse sem alma para habita-lo. Influenciado pela numerologia pitagórica, Platão estabeleceu a duração de punição ou recompensa em mil anos. Após este período, as almas deve reencarnar.

Somente aqueles que cometeram crimes gravíssimos devem permanecer mais de mil anos. Para os pitagóricos, o número 10 é perfeito. Platão multiplica a duração da vida terrena 100, pelo número 10 e obtém um resultado transhistórico.


TIPOS DE ALMAS
Para Platão há três tipos de alma. Em sua obra Timeu, as descreve:
Alma Racional: é de natureza divina, porque é gerada diretamente pelo Demiurgo É imortal, responsável pelo conhecimento, por todas as operações superiores . Por meio dela, o homem se põe em contato com o mundo superior.

Alma irascível: foi criada pelos deuses inferiores, é responsável pelas paixões nobres e generosas. Está intimamente ligada ao corpo e por isso perece com ele.

Alma concupiscível: é responsável pelas tendências grosseiras e paixões inferiores, é também mortal.


A alma racional se situa no cérebro; alma irascível reside no tórax e é separada da alma racional pelo pescoço e transmite as decisões, através das veias; alma concupiscível habita o abdômen, é separada da alma irascível pelo diafragma e comunica-se com alma racional por meio do fígado.
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CONCEPÇÃO DE HOMEM
Nas obras de Platão, sua preocupação com o homem é comovente e no seu esforço para criar um modo seguro de conhecer, através do humanismo de Sócrates, podemos ver a atitude política de Platão, que quer levar ao homem a possibilidade de conhecer, se libertar da caverna da sua ignorância e buscar a essência das coisas, por aquilo que lhe é mais perfeito a inteligência .Buscar sempre na conversa com o outro(dialogo) um caminho seguro, para chegar a verdade, sua dialética é método para o conhecimento. O corpo objeto a ser superado. O mundo terreno é o intermediário entre o ser e o não ser, pois está sujeito ao devir, isto é, uma perene transformação .
A concepção dualista sobre o homem. gira em torno de uma visão pessimista em relação ao corpo físico, que é visto como uma prisão, e não como relação harmoniosa .

Se o conhecimento é possível, nem sempre ele ocorre . Alma prisioneira do corpo, sofre uma influencia negativa, em quanto este impede o contado direto com as essências das coisas. Platão chama os conhecimentos produzidos pelos sentidos de doxa (opinião). Este conhecimento é superficial e não explica as causas das coisas. A doxa pode ser superada por um tipo de conhecimento que atinge a causa de todas as coisa no mundo terreno. A este conhecimento Platão chama de epistéme (ciência ).

A doxa se dá em dois grau diferentes: crença (pístis ) e imaginação (eikasía).
A epistéme se dá também em dois graus diferentes: ciência (dianóia) e filosofia (noésis).
A maioria dos homem permanece na doxa, os matemáticos atingem a dianóia e só os filósofo chegam a noésis, porque são os únicos que usam a dialética.

DIALÉTICA: para Platão é um processo de ascensão da alma, que aos poucos vai se libertando das influencias das imagem do mundo terreno, fornecidas pelos sentidos, até atingir o Mundo das Idéias.

Santo Agostinho nasceu em 354 a.C. e morreu em 431 a.C., é o primeiro grande filósofo do cristianismo. Mas as coisas não são assim tão simples, porque Santo Agostinho não começou sendo cristão. Nasceu no norte da Africa, em Tagaste . Seu pai era pagão e sua mãe era uma cristã, depois foi canonizada: Santa Monica
Santo Agostinho foi pagão durante muito anos e tinha uma adesão muito entusiasmada à doutrina de Manes, o maniqueísmo. Manes foi uma figura religiosa muito complexa. Viajou por muitos lugares e teve uma vida bastante agitada, recolheu elementos de muitas doutrinas, entre elas o cristianismo e da religião de Zoroastro. O maniqueísmo era de um dualismo insuperável em Deus e as trevas e isto é de uma dramaticidade que emocionou muito Agostinho.
Em 370 é enviado pelo pai para fazer seus estudos de retórica em Cartago. Nesse período escreve vários opúsculos combatendo o cristianismo, a partir de suas convicções maniqueístas.
À medida que avança em seus estudos afasta-se do maniqueísmo, até cair no ceticismo próprio dos acadêmicos.

Em 383, vai para Roma, onde abre um escola de retórica. Mais tarde, nesta cidade, ouve os sermões de Santo Ambrósio e lê as Enéadas de Plotino.

Os sermões o aproximão do cristianismo, enquanto as Enéadas o afastam do ceticismo.
Em 386, recebe o batismo e inicia a sua trajetória como escritor cristão, e escreve “Contra os Acadêmicos”, primeiro de uma numerosa lista de livros de filosofia e teologia.
O que nos chama a atenção, e por isto se faz necessário contar a vida de Santo Agostinho, antes do cristianismo, porque o mundo em que vive Santo Agostinho é um mundo que está em total “desconstrução”.
Portanto, como podemos ver, houve uma revolução não só em Agostinho, mas também no mundo. Agostinho era pagão e viu o mundo pagão cair, viveu a decadência do império romano (a pressão dos bárbaros já ameaçava a destruição de Roma). Foi o último grande homem antigo. Mas, ao mesmo tempo, foi o primeiro grande pensador que anunciava uma nova era, uma nova época. O contexto de Santo Agostinho é absolutamente extraordinário e junto com sua personalidade forte e apaixonada reflete–se em seu pensamento. Era também um escritor muito refinado. Assim, como Platão, a força mística religiosa e o modo poético na forma de escrever nos leva a uma viagem fantástica, sem nunca perder a coerência .
Há um texto de Santo Agostinho muito expressivo: ”tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova“. Ele tinha consciência de: Ter ama tarde à Deus, descobriu–o tarde, converteu-se já sendo homem adulto. Ou seja, é uma atitude de um homem que está saindo de um forma de vida, de um época histórica e entrando em outra.. Essa atitude visceral de suplica é, em Santo Agostinho, fundamental. È ela que faz desvelar a grande descoberta de Santo Agostinho: a intimidade (o homem grego mal conhecia a intimidade; é claro, houve o oráculo de Delfos, que diz, “conhece a ti mesmo”, isso estará em Sócrates, Platão e Aristóteles; sim, mas está longe de ser a intimidade proposta por Agostinho , por que os gregos raramente diziam “eu”; diziam nós.
Como podemos entender está intimidade em Santo Agostinho? Como a alma, porque para ele aquilo que homem tem de mais intimo é a alma. E em última análise, a grande descoberta de Santo Agostinho é alma entendida como espiritual. Espiritual não quer dizer não material; há uma tendência muito freqüente de entender o espiritual como aquilo que não é material; não se trata disso, mas de algo muito mais importante: espiritual é aquela realidade que é capaz de entrar em si mesma, o poder de entrar em si mesmo é que dá condição. Por isto, Santo Agostinho dirá: não fora de ti, entra em ti mesmo, no interior do homem que habita a verdade.

É tudo tão platônico e ao mesmo tempo tão diferente. Porque, ao mesmo tempo que fala do interior do homem, da intimidade do homem, idéia tão distante de Platão, tem uma profunda ligação com a inteligibilidade humana tão característico de Platão. Cada vez mais Santo Agostinho vai buscar a intimidade do homem chegando até sua alma.


A ORIGEM DA ALMA EM SANTO AGOSTiNHO


Agostinho, trata amplamente da questão da origem da alma, abraça livremente a idéia de Platão sobre a imortalidade da alma e a idéia que alma é superior ao corpo .Mas se mostra vacilante, entre criacionismo e o geracionismo . Deus criou as almas, mas como criou?
Aqui, nos parece claro, que Santo Agostinho não consegue se livrar de suas influencias platônicas, pois numa carta, “O ptato Milevi”, confessa não ter uma opinião clara sobre o assunto.
Platão ainda tem uma presença muito forte em todo pensamento de Agostinho. Deste modo ele refere-se aos platonistas: E, com efeito, Platão já havia compreendido que a plenitude da inteligência, no que se refere às verdades últimas, só podia se realizar através de uma revelação divina .
Mas se alma é um elo de ligação entre Santo Agostinho e Platão, também é onde a filosofia cristã de Santo Agostinho irá se tornar original, porque, como todos sabemos, a idéia de reencarnação de Platão é algo absurdo para o cristianismo, daí por diante, Agostinho irá desenvolver uma filosofia original, que terá uma vigência de oito século, este é o período que separa a filosofia de Agostinho da filosofia da Escolástica. Então, podemos concluir que, tanto o pensamento de Platão, como o de Agostinho, ainda hoje são atuais, porque nenhum deles esquece do homem.


As diferenças fundamentais de Platão para Santo Agostinho na Questão da Alma, são as seguintes:


PLATÃO SANTO AGOSTINHO
- A alma preexiste e subsiste ao corpo e - A alma é criada por Deus ou dele gerada.
já esteve encarnada outras vezes. Também é imortal.

- A alma se compõe de três partes: alma - A alma é una. Ela penetra e vivifica todo
concupiscível, alma irascível e alma o corpo, e está inteira em cada uma de suas
racional. partes.

- A relação entre corpo e alma é de - A relação entre corpo e alma é de unidade
violência.O corpo é uma cadeia da alma. e harmonia.

BIBLIOGRAFIA:

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“História da Filosofia”
Tradução: Adolfo Casais Monteiro
Lisboa – Editorial Inquérito – 1946 – 822 págs. – il.

Agostinho, Santo
“Contra os Acadêmicos”
Tradução e Prefácio de Vieira de Almeida
Coimbra – Atlântida – 1957 – 135 págs.

Sciacca, Michele Federico
“História da Filosofia – I – Antigüidade e Idade Média” – 2ª edição
Tradução de Luís Washington Vita
São Paulo – Editôra Mestre Jou – 1966 – 257 págs. – il.

Heidegger, Martin
“Introdução à Metafísica”
Apresentação e Tradução de Emmanuel Carneiro Leão
Rio de Janeiro – Tempo Brasileiro – 1966 – 295 págs.

Reale, Giovanni; e, Antiseri, Dario
“História da Filosofia – Antiguidade e Idade Média” – Volume I – 3ª edição
São Paulo – Paulus- 1990 – 693 + (18) págs. – il.

Agostinho, Santo
“A Cidade de Deus” - 3ª edição – 2 vols.
Tradução: Oscar Paes Leme
Petrópolis – Vozes/Federação Agostiniana Brasileira – 1991 – 1º vol. 414 págs.,
2º vol. 589 págs.

Kant, Immanuel
“Crítica da Razão Pura” – 3ª edição
Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão
Introdução e Notas de Alexandre Fradique Morujão
Lisboa – Fundação Calouste Gulbenkian – 1994 – XXVI + 680 págs.

Agostinho, Santo
“A Trindade”
Tradução do original latino e introdução de Agustino Belmente
Revisão e notas complementares de nair de Assis Oliveira
São Paulo – Paulus – 1994 – 726 + (9) págs.

Agostinho, Santo
“Confissões”
Tradução: Maria Luiza Jardim Amarante
Revisão cotejada com o texto latino: Prof. Antonio da Silveira Mendonça
São Paulo – Paulus – 1997 - 450 + (8) págs.

Auroux, Sylvain; e, Weil, Yvonne
“Dicionário de Filosofia – Temas e Autores” – 4ª edição
Tradução de Miguel Serras Pereira
Porto – Edições Asa – 1997 – 460 págs.

Barnes, Jonathan
“Filósofos Pré-Socráticos” – 1ª edição – 2ª tiragem
Tradução Julio Fischer
São Paulo – Martins Fontes – 1997 – 367 págs.


Platão
“Mênon”
Texto estabelecido e anotado por John Burnet
Tradução de Maura Iglésias
Rio de Janeiro – PUC-Rio/Loyola – 2001 – 117 págs.

Ulmann, Reinholdo Aloysio
“Plotino – Um Estudo das Enéadas”
Porto Alegre – Edipucrs – 2002 – 319 págs.

Abbagnano, Nicola
“Dicionário de Filosofia” – 4ª edição – 2ª tiragem
Tradução da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi
Revisão da tradução e tradução dos novos textos por Ivone Castilho Beneddetti
São Paulo – Martins Fontes – 2003 – XII + 1014 págs.

Platão
“A República”
Tradução Ana Paula Pessoa
São Paulo – Sapienza – 2005 – 403 págs.
A FILOSOFIA PLATÔNICA E A POSSIBILIDADE DE UMA FILOSOFIA CRISTÃ, A PARTIR DO PENSAMENTO DE SANTO AGOSTINHO.

Parte 1

Este texto busca mostrar como o pensamento platônico influenciou todo o pensamento de Santo Agostinho. A idéia principal é investigar até onde vai está influencia, e onde ela irá parar, ou melhor, como Santo Agostinho irá superar esta influencia para tornar sua filosofia original .
O que nos move a promover este encontro (não que a própria história da filosofia não o tivesse percebido), foi o fato de percebermos, nestes dois grandes pensadores, que o âmago de suas filosofias é o homem.
E por entendermos, que o primeiro problema, pelo menos implicitamente, da investigação filosófica é precisamente o do homem, aquele problema que cada um de nós é para si mesmo: Que sou eu? O que faço no mundo? Qual o meu destino?
Todos os problemas nascem desta reflexão. E, evidentemente, isto não significa que o objeto da filosofia seja apenas o homem: seu objeto é o ser na sua totalidade.
Mas, é o homem, que indaga sobre o ser; portanto, no momento em que propõe o problema do ser coloca o problema de si mesmo dentro do próprio problema do ser.
Portanto, o primeiro problema (mesmo não sendo cronologicamente) é sempre o último, a cosmologia em função da antropologia.
E é neste sentido que buscamos tanto em Platão como em Santo Agostinho as reflexões que própria filosofia contemporânea faz .

O PENSAMENTO


Alguns irão pensar que estão lendo algo sobre a história da filosofia, e se perguntarão: Qual a importância para a filosofia falar da influencia de Platão no pensamento de Santo Agostinho, se temos hoje na filosofia temas aparentemente tão mais atraentes? A resposta é sempre a mesma, como já dissemos antes, por que ambos vão colocar o homem como questão, e buscando, na própria história da filosofia, fundamentar nossa resposta, encontramos Kant.
Este colocou a razão no tribunal e passou em revista todo o pensamento e a produção intelectual antes dele, e fez com que a filosofia voltasse para si, para buscar, dentro do homem, soluções para seus problemas, não que haja com isto uma mudança radical de seus interesses, é claro que seu objeto é sempre o mesmo, o todo. Mas, agora, será que só a razão é capaz de dar conta de tudo? Kant ainda coloca mais um problema ao afirmar ou interrogar “o que podemos querer’’. E ao dizer isto ele nos coloca a dois passos do pensamento de Santo Agostinho quando este diz: “ama e fazes o que queiras“, o Ama e fazes o que queiras; o que queiras, não é o capricho, não a teu bel-prazer, mas sim o que possas querer, que possas verdadeiramente querer.

E se repararmos bem, Santo Agostinho não está tão longe de Kant, para quem o único bem é a boa vontade. E a única coisa que é verdadeiramente valiosa para ele (Kant): o que podemos querer . Não os sentimentos, não o capricho, mas o que possas realmente querer. “Ama e fazes o que queiras.”

Se fazes realmente por amor, pode fazer o que queiras. O que possas queres realmente,o que possas querer amorosamente, por amor. Naturalmente, se se suprime o “ama” destrói-se a frase, como é natural . Não é “ fazes o que queiras“, o capricho, ou o que te agrade ou o que te convenha, não, pelo contrario.
E porque começamos com esta citação de Santo Agostinho e está ligação com o pensamento kantiano? Em primeiro lugar, é para chamar atenção de que o pensamento de Santo Agostinho sempre é centrado no homem, O qual ele quer tornar intimo de Deus, depois levar está reflexão até a modernidade com Kant.

Pensamento Grego e o Pensamento Cristão

Santo Agostinho foi o primeiro filósofo, que assumiu para si a responsabilidade de criar o primeiro grande sistema da filosofia cristã, e neste ponto, se iguala a Platão, primeiro filósofo a sistematizar a filosofia grega.
O Cristianismo introduz algo de muito radical no pensamento filosófico. Se primeiro investigarmos como a filosofia nasceu na Grécia, e chegarmos aos pré-socráticos, que olharão primeiro a natureza e vão procurar explica-la e farão cosmologia para explicar o princípio primeiro “arche”, depois, Platão que é o primeiro a sistematizar todo o pensamento grego, é ele que inaugura de modo organizado as questões colocadas pelos outros . É o primeiro a tentar solucionar a questão do ser colocada por Parmênides e Heráclito. Ele também será herdeiro de outras questões filosóficas: socrática, pitagórica e o orfismo. Dos órficos e dos pitagóricos herdará a noção de imortalidade da alma, questão essencial no pensamento platônico. É também o “criador“ da metafísica ou realidades supra-sensíveis, e ao separar corpo e alma, e dentro desta dicotomia, nos mostrará, pela dialética, o caminho seguro para buscar a verdade.
Como já falamos, o pensamento cristão coloca–se de um modo radicalmente diferente do pensamento grego, porque traz em si uma idéia de criação, que é alheia aos gregos.
Para o cristianismo Deus criou o mundo(Céu, Terra e tudo mais) do nada, “ex nihilo“.
Os gregos não estavam preocupados em explicar a criação do mundo, porque o mundo sempre esteve aí. E está idéia de criação do mundo é estranha para a filosofia até então.

É claro que existe um caso particularmente elucidador, que é Plotino, grande pensador neoplatônico, que com certeza recebeu alguma influencia do cristianismo. Essa influencia o levará a pensar em algo que tem certa analogia com a idéia de criação: É o que ele chamará de “emanação”. Chamará o princípio capital de Uno, mais ou menos o equivalente a divindade, produzindo todo o restante por emanação. Há muitas metáforas, há uma serie de imagens, por exemplo, a de uma luz, que vai iluminando, que vai se difundindo até acabar numa névoa .Há diferentes formas de entender isso, mas o fundamental é que a emanação é a produção de tudo o que não é Uno . Mas este é um pensamento singular porque de modo geral o pensamento grego parte do pressusposto de que as coisas sempre estiveram aí.

Esta mudança que o cristianismo coloca no pensamento tem um grau de radicalidade única. A idéia que Deus criou o mundo do nada, não de si mesmo, não da emanação, não é fabricação, não de uma matéria prima determinada já existente, e sim que Deus põe em existência uma realidade nova diferente d’Ele, por amor. Esse é, digamos, o motivo da ação criadora de Deus, e evidentemente está ameaçado pelo nada, isto é, o problema está em que poderia não haver nada. Não é a mudança de uma coisa para outra, não é o problema da “kinesis” grega, mas algo bem mais radical: o real está ameaçado pelo nada, poderia não haver nada. E Deus pôs o mundo em existência.

Isso com certeza tem um grau de radicalidade maior do que o do pensamento grego, ou seja, o pensamento grego parte do pressuposto que as coisa já estão aí.

Uma pergunta crucial, por que há algo e não somente o nada ?
É a formulação que Leibniz fará, e mais tarde Heidegger.
Primeiramente, isso corresponde a atitude que se iniciou com o cristianismo, no qual o radical é justamente a realidade da criatura e do criador. É por isto tudo que citamos Plotino, porque ele é a ponte que ligará Platão a Santo Agostinho, porque é por ele que Santo Agostinho irá passar para chegar a Platão.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

FILOSOFIA COMO RESPOSTA E FILOSOFIA COMO QUESTÃO

Iniciamos nossa proposta de trabalho na perspectiva do retorno da filosofia no ensino médio. E gostaríamos de investigar como este retorno será feito, e é por isso que a proposta da da filosofia como resposta e filosofia como questão, se coloca como um modo claro e objetivo para refletir este momento na educação brasileira.

Vivemos num país que há muito tempo optou por uma tradição positivista e que buscou sempre nas ciências positivas soluções para os grandes problemas da nossa sociedade, desse modo os filósofos e os temas filosóficos sempre foram olhados com certo descaso, e as pessoas que buscam a filosofia são vistos como aquelas que ainda não descobriram o que fazer da vida e se ocupam com problemas inúteis e irrelevantes.

Com esse modo de pensar, o Brasil, buscou se afirmar como líder, mesmo que seja do terceiro mundo, e colocou todas as suas potencialidades nas ciências chamadas exatas, com a esperança que elas iriam mudar sua condição de país subdesenvolvido e de que a revolução tecnológica iria resolver os seus graves problemas, como: A vergonha da taxa de mortalidade infantil, o analfabetismo, a fome, o desemprego, a falta de moradia, a reforma agrária e a total exclusão da sua população mais carente.

Os anos foram passado, nada mudou, pelo contrário, os problemas citados só se agravam, gerando outros, sendo que o mais sério deles é o da violência, que hoje se tornou nosso maior pesadelo e não sabemos como resolver.

A era da ciência, reinante no mundo, parece que fracassou aqui no Brasil, esta claro.
E porque agora começar a se pensar em filosofia mesmo que de modo tímido?
Seria uma tentativa de recuperar a capacidade de pensar?
Ou de trazer de volta uma consciência crítica, para, por meio dela, reconquistar um espaço de liberdade de pensar ?
Gostaria de pensar que sim. E é por isso que achamos necessário investigar qual seria o tipo de filosofia que será ensinado nas nossas escolas.
E pensando como a filosofia se apresentou ao longo da história da humanidade, ora, cultivada como “a mais nobre de todas as ciências”, ora, perseguida, execrada e acusada dos crimes mais vis. Na própria Grécia, onde ela nasceu, temos a primeira vítima, Sócrates, que foi condenado a beber cicuta porque, através da filosofia, ameaçava a Polis. Esse caráter de ambigüidade, perante a filosofia, é que nos faz pensar nas duas possibilidades apresentadas de como ensinar filosofia:

1 ) Filosofia como resposta
2) filosofia como questão

FILOSOFIA COMO RESPOSTA
A filosofia como resposta se apresenta como uma ciência de todas as coisas por suas causas mais elevadas, é a filosofia identificada como uma sabedoria e é vista como um saber que acumulou durante seus mais de dois mil anos um imenso repertório de teorias e resposta. “Tesouro inestimável da cultura humana que deve ser transmitidos às gerações, como aquilo que de mais valioso foi elaborado pelo homem em seu caminhar “.
Conhecer estas respostas é então enriquecer-se culturalmente e espiritualmente, chegando a uma visão abrangente, e pela posse dessa filosofia primeira, conhecer o bem e mal .
Refletir sobre esta forma de ensinar filosofia como resposta nos levará a uma investigação que começa na sua raiz, e por isso tão antiga como a própria filosofia. Já na Grécia ela está presente, primeiro com Parmênides e o seu princípio de verdade:
“O ser é e não poder ser de outro modo , se ele é o não ser não pode ser.“
Mais tarde, Aristóteles, aproveita do princípio de verdade de Parmênides e criará o princípio de identidade e vai inaugurando na filosofia o primado da metafísica. Nesta perspectiva, o fundamental para a filosofia é chegar à identidade do ser. A primeira tarefa da filosofia é então estabelecer os limites que definem a identidade de cada ser. Mas, para chegar a isso, é necessário uma outra distinção: Entre o que é acidental no ser e o que é essencial. Sim, porque o que se procura acerca de um indivíduo, como aquilo que o determina, é a natureza que é compartilhada com ele por todos os demais seres de sua classe (de sua espécie). Só assim o conhecimento obtido é de alguma utilidade. Pois, não interessaria à ciência, ao saber fixo e universal, captar um conhecimento totalmente contingente .

“A metafísica, forma mais acabada daquilo que chamamos aqui de filosofia da identidade, trabalha, apenas, com uma categoria do ser, a substância, privilegiada como fundamental, enquanto as outras são deixadas de lado, porque justamente não contribuem, não constituem a essência do ente – objeto.”

A metafísica de Aristóteles é abstração pura, pois ela estirpa do ser seus acidentes ou melhor sua existência. Mas, o grande estrago ainda estava por vir, a idade média, principalmente, a escolástica, que sofrerá grande influência de Aristóteles, irá reduzir a filosofia a uma ciência que sabe tudo, sobre quase nada e assim atravessará séculos discutindo o sexo dos anjos.
Desta maneira, a filosofia como resposta, apostou na identidade e se esqueceu da dialética, da história, da existência do real e da própria filosofia, pois
até o nome de filosofia foi trocado para teologia, porque o Ser aristotélico é fechado em si mesmo, não precisa de ninguém, não tem começo, nem fim, não está inserido no mundo, ninguém irá desvelá-lo, é perfeito e está além da nossa realidade.

FILOSOFIA COMO QUESTÃO
A filosofia como questão se apresenta como um modo de aprender filosofia a partir de um problema, de uma questão que se coloca num determinado tempo histórico, num determinado contexto cultural, e cujo equacionamento leva à uma tomada de consciência de um aspecto da realidade até então ignorado. Significa perceber que as resposta definitivas não foram encontradas e talvez nunca o sejam, pois, cada resposta, não é, afinal, uma nova questão?
Assim como a filosofia como resposta, é tão antiga quanto a filosofia.
A filosofia como questão também tem sua raiz no pensamento grego, e seu principal representante é Heráclito. Para Heráclito, toda a realidade é dotada de dinamismo, as coisas estão em perene movimento.
“Nada é fixo, tudo se modifica “. “Tudo se move”, “tudo escorre“.
A filosofia como questão se coloca de modo radical contra a filosofia como resposta, porque rejeita todo o dogmatismo ou verdades sacralizadas, impostas pela metafísica clássica. Ao invés de caminhar no sentido da abstração, caminho percorrido pela filosofia da identidade, propõe-se a um mergulho no real, no concreto, no individual, e na história.

Seu campo não é o das essências, ou de idéias, mas o da própria vida, onde o sujeito e o objeto se encontram indissoluvelmente ligados, pois um é a condição da existência do outro.
Os maiores representes desta filosofia como questão estão nos pensadores existencialistas e no pensamento dialético, porque concebem o real como um processo histórico no qual é o devir que importa . Para este, não há necessidade de estabelecer limites rígidos ao campo da filosofia: todo objeto pode ser tomado como objeto de reflexão filosófica. Todo objeto para ser compreendido remete ao mundo do qual emerge. Em todo objeto de pensamento, a questão fundamental que se coloca não é sobre a definição de sua essência, mas sobre o sentido de sua existência. E dentro desta visão, a filosofia se coloca com uma inquietação e uma capacidade de recolocar como perguntas as respostas que já foram dadas, levando a cada um de nós a continuar sempre questionando, ou seja, a um filosofar permanente.

Porque a filosofia como questão, não é uma meditação sobre teoria já elaborada, não é um processo de assimilação do que já foi dito a respeito, ou a compreensão do que já foi explicado. Não é a capacidade de estabelecer uma hierarquia entre as teorias mais próximas da verdade .


Agora a pergunta final: Qual deste dois modos de filosofia se pretende ver cultivado no ensino médio? Como pretendemos que a filosofia, mesmo como uma disciplina optativa, seja reintroduzida em nossas escolas ?
Para Aristóteles, tudo o que é sensível sofre mudança e assim ele formulou dois conceitos básicos: ato e potência. O ato determina e a potência é indeterminada, aquilo que é só pode ser o que é, não há possibilidade de ser de outro modo.

Mas, fomos salvos pela crítica kantiana que nos libertou da ditadura imposta pela metafísica aristotélica, porque assim como Hume o despertou do seu sono dogmático, ele irá despertar a filosofia e colocar a metafísica no tribunal e realizar a revolução copernicana na filosofia, ela acordará e despertará o Heráclito que estava adormecido.
E no devir, a filosofia se põe como questão, saído da abstração metafísica e entrando no materialismo histórico dialético, e não teremos mais o ensino de filosofia, pois como disse Kant, em citadíssima passagem, não podemos ensinar filosofia, apenas ensinar filosofar.

As perguntas são muitas, assim como as respostas e as questões, mais que nunca podemos é perder o foco da questão.

Que a filosofia tem por objeto a totalidade do ser e que neste aspecto ela radicalmente diferente da ciência que só o busca em parte.
Que é sempre uma reflexão radical, porque vai na raiz dos problemas.
Que é uma crítica que busca o que está oculto nas ideologias.
Que, principalmente, é livre por que não está a serviço de nenhum sistema seja ele político ou econômico.

E é por isso que tanto a filosofia como resposta como a filosofia como questão tem que passar por esta visão .
Enquanto a filosofia como questão nos parece como a melhor alternativa, não podemos colocar todas as nossas esperanças nela, porque corremos o risco de cair no ceticismo e no criticismo, que nada nos ajudarão, basta pensar como o existencialismo e a dialética perderam muito de sua força, uma, porque se aproximou de modo perigoso do materialismo, esquecendo da própria existência do homem e, a outra, porque se deixou levar por caminhos que muitas vezes a levaram ao ceticismo, porque a impossibilidade de afirmar ou negar alguma coisa não combina com a mentalidade que a ciência implantou na modernidade e muito menos ainda com a tradição filosófica.

Desta maneira, a crítica que se coloca na filosofia como resposta, como um saber revelado, onde não se precisa pensar porque as resposta já foram dadas, e sua utilização pela religião, como modo racional de entender a fé, a levou ao dogmatismo, do qual continuamos vítimas até hoje.


BIBLIOGRAFIA:

Kirk, G. S., e, Raven, J. E.
“Os Filósofos Pré-Socráticos” – 2ª edição
Tradução de Carlos Alberto Louro Fonseca, Beatriz Rodrigues Barbosa e Maria Adelaide Pegado
Lisboa – Fundação Calouste Gulbenkian – 1982 – XVIII + 510 págs.

Nietzsche, Friederich Wilhelm
“A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos”
Tradução de Maria Inês Madeira de Andrade
Revisão de Arthur Morão
Rio de Janeiro – Elfos – 1995 – 109 págs.

Reale, Giovanni, e, Antiseri, Dario
“História da Filosofia” – “Antiguidade e Idade Média” – Volume I – 3ª edição
São Paulo – Paulus – 1990 – 683 + (18) págs. – il.

Abbagnano, Nicola
“Dicionário de Filosofia” – 4ª edição – 2ª tiragem
Tradução da 1ª edição brasileira coordenada e revista por Alfredo Bosi
Revisão da tradução e tradução dos novos textos por Ivone Castilho Benedetti
São Paulo – Martins Fontes – 2003 – XII + 1014 págs.

Porta, Mario Ariel González
“A Filosofia a parir de seus problemas.
“Didática e metodologia do estudo filosófico.”
São Paulo – Edições Loyola – 2002 – 181 págs.

Aristóteles
“Metafísica” – Volume II – Texto grego com tradução ao lado.
Ensaio introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale.
Tradução de Marcelo Perine
São Paulo – Edições Loyola – 2002 – XIII + (3) + 695 págs.

Kant, Immanuel
“Crítica da Razão Pura” – 3ª edição
Tradução de Manuela Pinto dos Santos e Alexandre Fradique Morujão
Introdução e notas de Alexandre Fradique Morujão
Lisboa – Fundação Calouste Gulbenkian – 1994 – XXVI + 680 págs.

Faria, Maria do Carmo Bettencourt de
“Filosofia como Resposta e Filosofia como Questão”
em
“Debates Filosóficos” – Revista da SEAF – Sociedade de Estudos e Atividades Filosóficas
Rio de Janeiro – v. 2 – 1981 –
Obs.: Reprografia da pg. 90 até a pg.104.

sábado, 25 de julho de 2009

Aristóteles criou a Lógica Formal, segundo a qual podemos analisar a coerência estrutural de um discurso, antes mesmo de examinar seu conteúdo semântico. Por mais que se critiquem as limitações de sua análise extremamente dependente da estruturação, não da linguagem em geral, mas da língua grega com suas peculiaridades sintáticas, o movimento mesmo inaugurado por Aristóteles de buscar uma abstração para evidenciar uma articulação formal interna de uma frase e de várias frases entre si visando a composição de um discurso argumentativo e demonstrativo é talvez o passo mais decisivo para delimitar a cientificidade de um discurso. O passo que caracteriza definitivamente a diferença do discurso de conhecimento ocidental em face de outros discursos de conhecimento, normalmente amparados em narrativas e vivências – nunca em rigorosas demonstrações silogísticas.
De fato, Aristóteles consuma em suas investigações lógicas, reunidas num conjunto de tratados chamado de Organon – “o instrumento” –, uma análise impar do discurso demonstrativo entendido justamente como o instrumento essencial para o conhecimento científico. Essas investigações passam por uma distinção funcional dos termos que compõem uma frase (as chamadas “categorias”), pela composição das frases que pretendem ter valor de verdade ou falsidade (ditas proposições apofânticas – ou demonstrativas), pela ordem do encadeamento de frases para alcançar uma conclusão (os famosos silogismos), até a disposição dos assuntos numa demonstração científica (os tópicos do discurso) e a descoberta das possíveis falácias que deixam com aparência verdadeira uma falsa argumentação (os diversos sofismas). Estes assuntos são respectivamente tratados nas Categorias, no Tratado da Interpretação, nos Analíticos, nos Tópicos e nas Refutações Sofísticas que compõem os seis livros do Organon.
1. A Linguagem Mítica
Na Grécia antiga, o mito é uma tentativa de explicar a realidade, de compreender a totalidade e de desvelar o sentido das coisas. Estabelecer uma ordem cosmológica em função de uma antropologia, ou seja, o mito é uma tentativa do homem explicar o mundo. E esta explicação busca na linguagem oral, que se expressa através dos cantadores, dos adivinhos, dos decifradores de enigmas, e principalmente dos poetas que falam dos heróis e de seus feitos, e estes poetas são chamados de “mestres das verdades”.
Na narrativa mítica temos uma linguagem aberta, ambígua, que permite varias interpretações, a palavra do poeta é ritual que visa um efeito no homem, permitindo que ele possa ligar com os acontecimentos no mundo, por exemplo, através da palavra de verdade pronunciada pelo poeta o homem aprende a viver e a morrer, através da narrativa mítica ele sabe o tempo de plantar e de colher, e sacraliza o espaço geográfico-social, como exemplo, o Templo de Apolo, o Olimpo, o Hades.
A Linguagem mítica cria uma relação entre o divino e o homem, e o mediador é o poeta/profeta, é o exemplo de Tiresias1 em Édipo Rei de Sofocles. É uma palavra de de autoridade que ata dois mundos, o humano e o divino, o sagrado e o profano, e esta fase da linguagem se afirma por si mesma e não admite discussão nem contestação.
O mito regulariza costumes e leis, as liturgias, educa a comunidade e fortalece os seus laços.
Perante a linguagem mítica não há escolha a ser feita, nem juízo a ser proferido. “O mito não se submete à analise, pois sua lógica é própria e as relações que tece não se deixam decifrar pela luz da razão fria” (FARIA, 1994).
Apesar de todas estas características, para Aristóteles há uma necessidade de outro discurso, o da ciência.
Aristóteles reconhece em seus primeiro livro da Metafísica uma espécie de continuidade entre o amor aos mitos e o amor a sabedoria.
Ora, quem experimenta uma sensação de dúvida e de admiração reconhece que não sabe; e é por isto que também aquele que ama o mito é , de certo modo , filósofo: o mito, com efeito, é constituído por um conjunto de coisas admiráveis. (ARISTÓTELES, 2002)

A linguagem mítica é respeitada por Aristóteles, que a considera despida de seu caráter fantástico, uma fonte de ensinamentos.

2. A linguagem: jurídico-político
Antes do discurso da ciência, que para Aristóteles é o discurso claro, articulado, é necessário passar pelo discurso jurídico-político, que vai implicar nos movimentos de laicização e democratização do poder no advento da polis. É na guerra que se vai identificar a origem desta nova ordem. Há os butins de guerras, todos devem ter direitos iguais nas partes, há debates, julgamentos, há uma nova relação entre o soberano e os súditos que não é mais vertical, mais sim horizontal, aparece a isonomia2.
A palavra dos Deuses está ausente. Agora, são palavras dos mortais, que não anunciam verdades indiscutíveis. O debate se instaura e nasce a dialética, por meio dela se criam regras e leis, que devem ser reconhecidas por todos como justas.
A pratica guerreira é a inspiração para que nasça o Estado Democrático, como guerreiros, os cidadãos se reconhecem como iguais e com iguais direitos.
O discurso jurídico político se estrutura em torno de um juízo; é preciso decidir entre o sim e o não.
Ao contrário da linguagem mítica, o discurso jurídico-político fala do tempo presente, do aqui e agora, seu espaço é concreto (real). Assim como a linguagem mítica, o discurso jurídico político é performativo, porque confere aos homens um sentido para o seu viver na comunidade. Educa os homens para viver na polis, seu poder é uma droga pharmacon3 poderosa.
É nesta momento que aparece na polis grega os mestre da retórica, que ensinam aos jovens o poder da palavra, os belos discursos que não buscam verdade, mas convencer os demais e exercerem o poder. Este novo discurso passa a ser a voz da polis.
Neste contexto o discurso passa a ser relativo, os sofistas não estão preocupados em demonstrar a verdade de suas teses, mas, convencer pela eloqüência e sedução.
Este novo discurso da polis deixa de lado o discurso da natureza, mas isto não significa o desaparecimento da linguagem mítica, ambos buscam seu espaço na polis grega.
Em Atenas os homens experimentam pela primeira vez uma liberdade através do advento da democracia nunca antes visto, todos que gozassem do direito de cidadania podiam participar das assembléias (na ágora). Por isto, saber falar bem, saber argumentar e refutar as teses em debate, é fundamental para conquistar a platéia, os sofistas - mestres da retórica tem um papel de suma importância neste contexto.
No diálogo Sofista, Platão demonstra que a sofística tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Os Sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloqüência e sagacidade mental, ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso dos negócios públicos e privados. Transmitindo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários. A parir dessas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta.
Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias. E foi devido a essas características que a palavra sofismo ganhou o sentido de impostor, o fabricante de uma realidade fictícia, perdendo o sentido de sábio

3. O discurso científico
No discurso científico o que interessa é a natureza e suas leis imutáveis e fixas, por isto a matemática é a inspiração. Ao discurso da ciência cria um novo modelo de linguagem que Aristóteles chama de “Logos Apophantico” que é o discurso que permite ao próprio ser manifestar-se , e que, ao dizer algo acerca de alguma coisa não tem intenção de falar de si mesmo, mas do objeto. O objetivo desse novo saber exige um novo tratamento da linguagem, que ao pensamento uma nova articulação: é a Lógica.
A dialética da lugar à analítica, a objetividade predomina sobre a opinião, subjetividade. A opinião (doxa) adquire um sentido pejorativo, de saber inferior e pouco seguro. Neste momento a linguagem perde o caráter performativo do discurso jurídico – político e a eficaz da narrativa mítica. A linguagem atua agora, torna-se especulativa e contenta-se em enunciar uma verdade que esta além dos limites.

4. A Linguagem como instrumento da ciência
Aristóteles foi aluno de Platão na sua famosa Academia, no entanto, logo desenvolve uma independência do pensamento platônico. Platão desenvolve a teoria das Idéias para tentar resolver o problema do conhecimento, para ele o verdadeiro conhecimento, só seria possível no outro plano, das realidades imutáveis.
Platão chama tais realidade de “Idéias”.
As coisas que captamos com olhos físicos são formas físicas, as coisas que captamos com os olhos da alma são, ao contrário, formas não–físicas: o ver da inteligência capta as formas inteligíveis que são exatamente, “ESSÊNCIA PURA”. (REALE, 1990, p. 135)

Porém, as Idéias não podem ser encontradas entre as coisa sensíveis, pois não as vemos e nem as tocamos . Elas devem se localizar em algum outro lugar, vetadas aos sentidos. Platão chega à conclusão que existem dois planos diferentes de realidade, um é o plano das idéias (essência puras) e o outro, das coisas sensíveis (essências imperfeitas). No livro VII da República, Platão descreve com uma alegoria, conhecida como Mito Caverna, a relação que existe entre o plano das idéias e o plano sensível.
Enquanto o plano das idéias é eterno e perfeito, no terreno é imperfeito ou uma cópia imperfeita do mesmo. (REALE, Giovanni.1990)
Para os platônicos, a palavra não expressa a coisa sensível, mas a Idéia (do grego, eidos, que na linguagem corrente significa “a fisionomia”, “a face”, portanto, o que se apresenta ao conhecimento) (FARIA, 1994).
Para Aristóteles a solução encontrada por Platão, não resolve o problema da conhecimento, duplicar a realidade está longe de ser uma solução, mas constitui-se num problema.
Como elabora um conhecimento rigoroso a respeito desde mundo sensível com o qual o homem se defronta em seu dia- a- dia? Como distinguir o discurso falso do verdadeiro a respeito das coisas humanas, ou a respeito da natureza? (FARIA, 1994),

Ao repensar estas questões ele irá buscar outra solução, é preciso uma linguagem única, Universal, para falar da realidade em contínua mudança, é preciso um termo único para a pluralidade dos entes, é necessário fazer que nosso vocabulário limitado seja capaz de encontrar um nome para falar de cada coisa e suas relações, e mais é preciso evitar as ambigüidades e as muitas interpretações.
No livro Política, Aristóteles escreve que uma das funções que os homens só são capazes de constituir uma sociedade por serem dotados de linguagem. As palavras ocupam o lugar da coisa, e só tem significado na medida em que guardam uma referência com o real, podem ser tomadas de muitos sentidos, mas dependendo de quem fala e de quem ouve, da situação, a mesma palavra pode ter varias interpretações.
Para resolver essas questões Aristóteles estabelece dois pressupostos necessários para que haja conhecimento: é preciso conhecer o sentido do nome e a existência da coisa.

5. A Lógica
Aristóteles criou a lógica, com o seu silogismo. O silogismo de Aristóteles pode ser definido assim: é um trio de termos, no qual o último, que é a conclusão, contém uma verdade que se chega através das outras duas. A é B, C é A, portanto C é B. O exemplo clássico de silogismo pode ser dado pelo trio de frases a seguir:
A. Todos os homens são mortais.
B. Sócrates é homem.
C. Logo, Sócrates é mortal.
A lógica não faz parte do esquema em que Aristóteles dividiu e sistematizou as ciências. A lógica considera a forma que deve ter qualquer tipo de discurso que pretenda demonstrar algo, e em geral queira ser probatório. A lógica pretende mostrar como o pensamento procede quando pensa, qual é a estrutura do raciocínio, como são feitas demonstrações. A lógica é preliminar às ciências, necessária para o modo como estas são desenvolvidas. Mas não tem em vista a produção de algo, nem a ação moral e não tem um conteúdo determinado, nem teorético. Ela é mais um instrumento necessário à produção mental que origina as ciências. A parte da obra de Aristóteles que trata da lógica, é, principalmente, os Analíticos. Vale observar que o termo lógica não foi usado por Aristóteles do modo como hoje o entendemos, mas é de formação tardia, da época de Cícero.
A verdadeira demonstração é feita pelo silogismo, como escreve Aristóteles nos Segundos Analíticos:
“Chamo demonstração o silogismo científico, chamo científico aquele silogismo com base no qual, pelo fato de possuí-lo, temos ciência”.
Contrapondo-se ao silogismo científico temos o silogismo dialético, que parte de premissas baseadas na opinião. O resultado desses silogismos é apenas provável.
As categorias oferecem os sentidos do ser. Os significados de ser são os quatro seguintes:
a) ser segundo as diferentes figuras de categorias;
b) ser segundo o ato e a potência;
c) ser como verdadeiro e falso;
d) ser como acidente ou ser fortuito.
As partes do Organon aristotélico, na ordem em que chegaram até nós, tratam de objetos que vão do simples ao complexo, começando pelos mais simples, isto é, pelos elementos. Tais elementos são considerados e classificados nas Categorias. "Categorias" significa predicados; mas na realidade Aristóteles trata no livro em questão de todos os termos que "não entram em nenhuma combinação", porque são considerados isoladamente como "homem", "branco", "corre", "vence", etc. Dos termos assim compreendidos, não se pode dizer nem que são verdadeiros nem que são falsos, pois verdadeira ou falsa é apenas uma combinação qualquer dos tempos, por exemplo, "o homem corre". Aristóteles classifica-os em dez categorias: 1) a substância, por exemplo, homem; 2) a quantidade, por exemplo, de dois côvados; 3) a qualidade, por exemplo, branco; 4) a relação, por exemplo, maior; 5) o lugar, por exemplo, no liceu; 6) o tempo, por exemplo, o ano passado; 7) a situação, por exemplo, está sentado; 8) o ter, por exemplo, tem os sapatos; 9) o agir, por exemplo, queima; 10) o sofrer, por exemplo, é queimado.
Obviamente, dado o assentamento geral da lógica aristotélica, a classificação das categorias não visa só os termos elementares da linguagem mas também as coisas a que se referem: mais, visa os primeiros só porque, antes de mais, considera estes últimos. Conformemente à direcção da sua metafísica, Aristóteles considera como categoria fundamental a substância. Um dos pontos mais famosos do escrito é a distinção entre substâncias primeiras e substâncias segundas. A substância primeira é a substância no sentido próprio que não pode nunca ser usada como predicado de um sujeito e nunca pode existir num outro sujeito: por exemplo, este homem ou aquele cavalo. As substâncias segundas são, ao contrário, as espécies e os genêros: por exemplo, a espécie homem, a que cada homem determinado pertence, e o gênero animal a que pertence a espécie homem juntamente com as outras espécies. Porquanto considere de algum modo justificado chamar substâncias às espécies e aos gêneros que servem para definir as substâncias primeiras. Aristóteles repara que só as substâncias primeiras "são substâncias no sentido mais preciso, na medida em que estão na base de todos os outros objectos". (ABBAGNANO, 1984, História da Filosofia, 1.º vol., pp. 301-302.)

Aristóteles é talvez mais conhecido como fundador da lógica formal – no seu caso, da teoria do silogismo – embora o que passa por esse nome na chamada lógica tradicional seja uma ampliação e, amiúde, uma deturpação da teoria aristotélica por lógicos posteriores. Aristóteles investigou que combinações de premissas que predicam alguma coisa - sobre tudo, algo ou nada absolutamente - de alguma outra coisa, conduzem validamente em direção a conclusões, e inferiu que os argumentos em causa incluíam-se em três figuras. Na primeira figura, as premissas terão a forma seguinte: “___ B é C” e “___ A é B”, com a conclusão “___ A é C” (onde as lacunas podem ser preenchidas por “todos”, “nenhum”, “alguns” ou “alguns — não”). É evidente que um termo – o denominado “termo médio” – deve ser comum a ambas as premissas. Na segunda figura, o termo médio é o predicado em cada premissa; e, na terceira, é o sujeito de cada uma delas. Nem todas as combinações possíveis de tais premissas em cada figura produzem silogismos lógicos e a teoria procura demonstrar quais são os válidos e fornecer provas de sua validade. Os Primeiros Analíticos contêm uma exposição formal da teoria do silogismo categórico (caso em que as premissas e a conclusão fazem afirmações categóricas), bem como um certo tratamento dos silogismos modais (casos em que as premissas e conclusões afirmam que alguma coisa é possivelmente ou necessariamente assim: “se p, então q; mas q é impossível; por conseguinte, não p”), e alguns outros argumentos que não se conformam estritamente ao padrão da teoria do silogismo.
A lógica de Aristóteles é uma lógica de termos: os argumentos são válidos ou não de acordo com as relações entre os termos envolvidos. A lógica posterior, da forma introduzida pelos estóicos em particular, era proposicional, interessada em relações entre proposições, sem referência aos termos que elas contêm.
Ele inicia os Primeiros Analíticos dizendo que o objeto de sua indagação é a demonstração, mas nem todos os silogismos se prestam à demonstração, como Aristóteles a concebia. A demonstração implica passar de premissas que se mantêm válidas universal e necessariamente para uma conclusão que faz o mesmo. Se for acrescentado que as premissas e a conclusão têm que ser também positivas, e não negativas, então a demonstração é possível apenas via um silogismo da primeira figura, como na verdade Aristóteles deixa provado. Isso é importante para as ciências, como Aristóteles as concebe, e como é exposto nos Segundos Analíticos.








Conclusão

Ao analisarmos os discursos produzidos na Grécia antiga, buscamos compreender como a narrativa mítica, foi essencial para a formação da mentalidade, que mais tarde formaria o advento da filosofia, pois como o próprio Aristóteles diz, quem ama o mito, também ama a sabedoria.
No discurso jurídico–político temos o nascimento da polis, e os germes da linguagem científica, pois é através, do debate, da retórica, da crítica de Platão aos mestres da retórica, que se demonstra a necessidade de se procurar pela a verdade.
No discurso científico, Aristóteles cria a analítica para se chegar a verdade numa realidade que está em permanente mudança.
Mas, Aristóteles, fundador da lógica, não foi apenas um lógico nem restringiu suas investigações sobre a linguagem no plano da instrumentalização formal do conhecimento. As investigações de Aristóteles sobre o problema fundamental da linguagem perpassam toda a sua obra, não apenas como um problema acessório ou instrumental, mas muitas vezes como o fundo orientador para vários âmbitos do conhecimento filosófico, profundo que ao mesmo tempo sustenta o modo filosófico de investigação em geral, como também instaura uma gama variada de conhecimentos ou ciências distintas. A linguagem não tem apenas o poder de ser instrumento do conhecimento, ela também é um lugar privilegiado para o acontecimento e aparecimento do real, ela também é o substrato em que se instaura a humanidade do homem como ser pensante.




Referências Bibliográficas
ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Vol. 1. Lisboa: Editorial Presença, 1984
ARISTÓTELES. Categorias. Porto: Porto Editora, [s.d.].
_____________. Organon. VI volumes (Categorias, Analíticos Posteriores, etc).
Lisboa: Guimarães, 1986.
_____________. Política. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
_____________. Metafísica. Volume II. São Paulo: Loyola, 2002.
_____________. Segundos Analíticos. Lisboa: INCM, 2005.
_____________. Tópicos. Lisboa: INCM, 2005.
DERRIDA, J. A farmácia de Platão. São Paulo: Iluminuras, 1991.
FARIA, Maria do Carmo Bettencourt de. Aristóteles: A Plenitude como Horizonte do Ser. São Paulo: Moderna, 2004.
REALE, Giovani. História da Filosofia. Volume 1. São Paulo: Loyola. 1990.
VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: DIFEL,
Édipo e a Filosofia


Édipo , sujeito do conhecimento, vive sua vida entre doxa e episteme .
No mito reconhecemos que na caverna seu mundo é perfeito. Édipo dominou a episteme quando decifrou o enigma da Esfinge .
Édipo é o sujeito que em seu mundo sensível conhece as coisas e tem poder sobre elas.
Seu Ser e mundo é como Parmênides descreveu é o mundo das aparências, das ilusões, aquilo que conhece como verdade é falso.
Sua existência por ser enganadora esta sempre lhe testando, suas vitórias são sempre temporárias, é o devir de Heráclito .
Édipo, somos todos nós quando não olhamos o mundo, como ele é verdadeiramente. Nossa existência busca, nas ciências, nas religiões, nossa essência, porque nossa razão não consegue perceber . Assim nossa ética é sempre regulada pelas ideologias . Também somos como Édipo vemos só aquilo que é sensível aos nossos olhos mas somos cegos naquilo que nos é essencial. Sofremos como ele porque não sabemos quem somos e de onde viemos.
E como ele trocamos fácil, nossas idéias e ideais, por algo que conforte o nosso ego, nós ocupamos a vida a resolver problemas banais, e nos sentimos como ele, heróis .
Como ele herdamos uma culpa, porque como ele sempre somos feridos na alma, desta ferida, que uns chamam alienação, outros de recalque. Assim como Édipo nos apoiamos na nossa terceira perna, para uns vaidade, para outros medo . Assim como ele pensamos que salvamos a Polis, quando exercemos nosso direito como cidadãos (matamos os monstros que, segundo os gregos, simbolizam as perversões dos governantes perversos ) mas logo a Polis esta em perigo de novo e assim vai...
Até que um dia como ele somos convidados a sair da caverna e conhecer verdadeiramente o que esta oculto e buscar a verdade, ir atrás de nossa verdadeira essência, ele foi, uns não irão, eu quero ir, mas a busca é sempre longa e difícil . Fora da caverna não existe o conforto da dúvida, só a dura certeza, também não existe recompensa, nem prêmio, só a realidade . Muitos irão voltar para contar as grandes novidades, assim como Zoroastro voltou, uns vão dizer que era louco, outros não acreditarão nele, e como o herói nietzschiano, estamos destinados a solidão. Mas assim é a filosofia, solitária naquilo que ela tem de mais democrático que é a possibilidade de cada um de nós ser herói de si mesmo.
Édipo enfim encontrou-se, viu sua essência verdadeira, descobriu de onde veio e escolheu o seu fim.
E aí vocês dirão isto é filosofia, eu responderei, e quem disse que não é?

Lisiane.